No aniversário de 50 anos do primeiro título mundial do maior pugilista do país, novato vive expectativa de estrear diante da torcida brasileira em SP
Por João Gabriel Rodrigues São Paulo
As arquibancadas do Auditório Olímpico de Los Angeles, nos Estados Unidos, estavam tomadas por mexicanos no dia 18 de novembro de 1960. Das 6.500 pessoas que lotavam o ginásio, a maioria incentivava e gritava o nome do compatriota Eloy Sanches. Do outro lado, porém, estava Eder Jofre, que vinha de uma vitória lendária sobre o também mexicano Joe Medel. No sexto round, um cruzado de direita derrubou o adversário e deu ao paulista o cinturão da categoria peso galo pela National Boxing Association. Ali, conquistava o primeiro título mundial de um pugilista brasileiro. Hoje, exatos 50 anos depois, Michael Oliveira, nascido no Brasil, mas tendo morado quase a vida inteira nos EUA, tenta repetir os passos do mestre. Invicto em suas 12 lutas (sendo dez por nocaute), ele estreia no país neste sábado, contra o dominicano Junior Ramos, em São Paulo.
Eder Jofre e Michael Oliveira se encontram em São Paulo (Foto: Marcos Ribolli)
Na tarde de quarta-feira, um dia antes da comemoração dos 50 anos do primeiro título mundial de Eder e a três da estreia de Michael no Brasil, o GLOBOESPORTE.COM reuniu passado e presente do boxe nacional em cima do ringue, em uma academia em São Paulo. De um lado, o ídolo tentando passar sua experiência ao jovem de 20 anos. Do outro, a reverência de quem sabe que tem um longo caminho pela frente.
Veja fotos do encontro.Eder vê o surgimento de Michael com carinho. Em um país sem um ídolo no esporte desde Acelino Freitas, o Popó, o “Galo de Ouro” aposta no sucesso do jovem em sua jornada.
- Ele é um bom moço. Não é convencido como muitos são por aí, apesar de jovem e ter passado quase a vida toda nos Estados Unidos. Não é mascarado. Mas a maior virtude é lutar boxe. E é bom. Pelo que eu vi, tem um golpe muito bom, pega embaixo, acertando o fígado do adversário – afirmou o ex-pugilista, de 74 anos, que também foi campeão mundial no peso pena, 13 anos depois do primeiro título.
Jofre dá conselhos a Michael
(Foto: Marcos Ribolli)
Eder e Michael se conheceram no ano passado, quando o jovem passou pelo Brasil para tentar divulgar seu trabalho. No primeiro encontro desde então, o veterano não poupou conselhos ao iniciante. Impressionado com o bom humor e a disposição do mestre, Michael espera trilhar um caminho parecido ao dele. A maior vitória, no entanto, seria o reconhecimento dentro de casa.
- A forma física dele, para a idade que tem, é impressionante, é para motivar qualquer um. Tento pegar um pouco da inteligência dele. Isso não tem preço. Na época dele até hoje, foi um dos melhores boxeadores. Ele me deu algumas dicas, coisa que a gente aprende nos treinos, mas qualquer coisa que um campeão fala tem sentido maior – disse Michael, com o sotaque carregado de quem mora há tantos anos nos EUA. “Ainda penso em inglês antes de falar em português”, explica.
O vigor de Eder realmente impressiona. Desfilando piadas, o veterano reencontrou o amigo Miguel Oliveira, também campeão mundial, deu socos nos sacos de areia e voltou a pisar no ringue. Em tom de brincadeira, levou Michael ao chão, arrancando sorrisos de fãs admirados que observavam o ídolo em ação.
- Ele me disse que está fora de forma, mas vem aqui e me dá um nocaute. Como assim? – brincou Michael.
Cinquenta anos depois de ter conquistado seu primeiro cinturão mundial, Eder aproveita agora o reconhecimento de sua história. Com a agenda da semana lotada de homenagens e entrevistas, o campeão sorri, satisfeito.
- É bonito, gostoso. Mostra que valeu todo o sacrifício. Todos querem saber como foi, o que aconteceu. E já se passaram 50 anos, mas parece que foi ontem. Até hoje, algumas pessoas me param na rua e me pedem autógrafo – diz o veterano, que foi alvo de pedido de fotos em sua passagem pela academia.
Eder Jofre: 50 anos do título mundial
(Foto: Marcos Ribolli)
Michael se espelha em Eder para tentar recuperar o prestígio do boxe no Brasil. Com uma estrutura invejável por trás, é apontado como grande esperança nacional em cima dos ringues. Para o pugilista, o país do futebol tem condições de ser forte em todos os esportes.
- Depois do Popó, não veio mais ninguém. No Brasil, com tantos atletas surgindo, não precisa focar só no futebol. Não me leve a mal, gosto de futebol, joguei lá nos EUA, mas o Brasil tem condições de ter um campeão em todos os esportes. Por que não ser bom em tudo? Olha o vôlei, vencendo quase tudo. A única coisa que falta é apoio. Temos talento, força de vontade e saúde. O resto, a gente conquista.
O jovem tem poucas lembranças das lutas de Eder. Viu apenas algumas, em vídeo. Diz que tem um estilo parecido e que seria um sonho chegar ao título mundial, mas que isso seria apenas um complemento.
- Todo mundo sonha, mas seria consequência do trabalho. O que eu quero mesmo é ter apoio e reconhecimento no Brasil. Eu me sinto campeão só de ter o povo me empurrando. Nada é impossível. O céu não é o limite – afirmou Michael, que ainda conhece pouco do país, com visitas a São Paulo todo fim de ano e uma ida ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro.
Eder, no entanto, torce e aposta que o jovem pupilo tem condições de trilhar seu caminho.
- Ele pode (ser campeão mundial) e estou torcendo para isso. Ele é muito bom. Mas tem que treinar. É o conselho que eu dou.
Michael não esconde a ansiedade para a luta de sábado. Diz que vai ser especial, mas garante estar preparado para fazer sua estreia em ringues brasileiros.
- Eu nasci pronto (para lutar). No meu ideal, espero vencer com três socos e em um minuto, mas sei que vai ser uma boa briga. Vai ser uma noite fantástica, diferente – disse Michael, que deve voltar a lutar no Brasil no ano que vem, desta vez no Rio de Janeiro.
O pugilista enfrenta Junior Ramos neste sábado, às 22h, no Espaço das Américas, na Barra Funda, em São Paulo. O SporTV vai transmitir o evento ao vivo.
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